segunda-feira, 2 de abril de 2012

REPORTAGEM: Pânico e medo nas ruas de Ubiratã


Élcio Gonçalves e o pai, Santino, armazenaram pedaços 
de pau dentro de casa com medo dos bandidos.
(Foto: 
Dilmércio Daleffe)

A pequena Ubiratã vem passando por um dilema, um problema identificado apenas em grandes centros. Num período de 15 dias foram quatro pessoas mortas na cidade. Um índice alarmante para um município de 25 mil habitantes. Entre os crimes, está o envolvimento direto de uma perigosa quadrilha de assaltos a ônibus. Em dois confrontos com a polícia, dois de seus membros foram mortos. Também foram eles quem mataram um policial militar no dia 11 de março. Além deles, outro adolescente morreu numa discussão na praça. Fora isso, outras três pessoas foram baleadas. A história até parece enredo de filme americano. Mas infelizmente, não é. Com medo de toda a violência, a população está apreensiva. Na zona rural, quem não tem arma, se defende como pode. A família Gonçalves que o diga. Há quase uma semana eles dormem com pedaços de pau ao lado de suas camas.
Santino e Élcio Gonçalves são pai e filho. Moram numa pequena propriedade rural em Ubiratã, a cerca de um quilômetro de onde aconteceu o tiroteio entre polícia e parte da quadrilha, na manhã do último dia 25. Eles escutaram os tiros, mas acreditaram ser o barulho dos fios de alta tensão. Ainda dormiam quando a polícia chegou até sua casa pra falar do ocorrido. Explicaram pra ficar em alerta, uma vez que membros da quadrilha haviam fugido a pé pra aquele lado. Desde então, o pavor tomou conta da família. Aos 76 anos e com problemas na coluna, “seo” Santino entrou em pânico. Apanhou pedaços de pau e os deixou sob a cama. “Não sei se vamos fazer alguma coisa. Mas pau é pau”, disse. Élcio, o filho de 49 anos, também mostra apreensão. Soube ele que se trata de bandidos perigosos e que reagem sem medo contra a polícia. “Estamos tomando cuidado. Mas não temos muito o que fazer”, argumenta. 
Na cidade, a preocupação não é diferente. Vendedora de uma loja de roupas, Elisângela Dias está assustada com a violência das últimas semanas. “Tenho filhos e me preocupo por eles. Nunca sabemos com quem vamos nos encontrar na rua”, disse. Segundo ela, até o ano passado a cidade já registrava pequenos roubos no comércio, mas nunca com mortes. “Agora a situação está mais grave”, relata. No entanto, há quem não tenha medo da violência. Aposentado e aos 83 anos de idade, Abnel de Oliveira reage com naturalidade aos fatos. “Não estou nenhum pouco assustado. Afinal, este problema está em todo o país. E quer saber: a situação só tende a piorar”, afirma. Segundo ele, “marginais e vagabundos” estão se proliferando como formigas lava pés. Não há o que fazer, disse.

O problema
Ubiratã seguia seus dias habituais como a maioria das pequenas cidades do estado. Isso até o dia 11 de março. Naquele dia, a quadrilha liderada, segundo informações da Polícia Militar, por “Dino” - um jovem de aproximadamente 25 anos e nascido na própria cidade -, invadiu a casa de um empresário e roubou boa quantia em dinheiro. Policiais militares saíram à caça dos elementos, mas foram encurralados em uma área rural. Os dois soldados foram baleados. Um deles, Daniel Lelis, acabou morrendo em plena atividade policial. Morreu bravamente tentando defender a comunidade. A partir daí militares de Cascavel e Campo Mourão rumaram a Ubiratã. Na segunda, dia 12, um dos suspeitos pelo assalto e pela morte do militar acabou sendo encontrado e morto. Gilson Vargas, segundo as investigações, fazia parte da quadrilha de “Dino”. O dinheiro levado do empresário de Ubiratã também foi encontrado.
A investigação
De acordo com o delegado Roberto Camargo, num trabalho silencioso, a polícia descobriu quem eram os companheiros de Vargas. Calmamente, os passos de cada um deles foram seguidos. Na noite do último domingo, dia 25, um Corsa Branco tentou parar um ônibus de sacoleiros próximo a Araruna, sem êxito. Os dois elementos, também pertencentes a quadrilha de “Dino”, então voltaram a um posto de combustíveis na BR-369, em Ubiratã. Lá, passaram a escolher o próximo coletivo a ser assaltado. Mas antes de iniciarem a ação, foram presos. Na mesma noite, os policiais começaram uma busca a uma camionete vermelha roubada horas antes em Cafelândia. Dentro dela, estavam outros três integrantes da gangue. Quadrilheiros e policiais acabaram se encontrando. O confronto, mais uma vez, foi inevitável. Na perseguição, em meio a um milharal, Marcelo Cordeiro foi morto com um tiro na cabeça. Seus outros dois companheiros, suspeitos na ação contra sacoleiros, foram baleados e estão presos. Um deles corre o risco de perder o braço.       
Informações levantadas junto a Polícia Militar, dão conta que o tal “Dino” é altamente perigoso. Mantém passagens pela polícia desde os seus 15 anos e, mais recentemente, responde por homicídio e assalto a mão armada. O que o faz tão violento é a coragem em enfrentar e revidar a polícia. A quadrilha, hoje quase desmantelada – são dois mortos, e quatro detidos – só não acabou porque “Dino”, ainda está foragido. “É fundamental prendê-lo. Ele está num beco sem saída”, disse o delegado de Ubiratã. Os elementos presos também portavam pistolas 9 milímetros e espingarda calibre 12. Um policial informou que a munição dos assaltantes era melhor que da própria PM. Diante dos fatos, a população não tem mesmo muito o que fazer. O jeito é agir como os Gonçalves. Reunir pedaços de pau e pedir a Deus que afaste o mal de perto de casa. Em tempo: policiais continuam as buscas pelo último foragido. A perseguição ainda não acabou. (Fonte: Tribuna do Interior)


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